Toda a paz tem um preço

 O problema de alguém ser a tua personificação de paz é que quando a pessoa se vai o teu mundo parece desabar.

 Quando o mundo é um enrolado de problemas, quando a vida mais parece um novelo de lã que serviu de brinquedo a um gato jovem, e alguém te faz rir e te faz esquecer da tua vida, que a tua vida é aquele novelo, aí tu sentes que por breves momentos o universo está alinhado, e que talvez mereças a paz que essa pessoa te traz.

 É bom quando finalmente percebes que alguém consegue fazer isso; trazer-te a tão esperada paz. Talvez até um pouco de felicidade disfarçada de gargalhadas e cuidado. 

 Nessa altura nem queres pensar que a paz e o riso fácil se podem ir embora. Tu sabes porque aprendeste que tudo é efémero, que nada é eterno, que tudo passa, porque a vida é cheia de metamorfoses. Mas pensar no fim é doloroso chato.

 Não tão chato quanto o final. Quando o teu mundo quer cair porque ninguém te segura e tu não aguentas nem com o peso do teu próprio corpo.

 Esse é o preço de deixar as pessoas entrarem, e fazerem coisas boas por ti. Esse é o preço de viver bons momentos.

 Tu sabes que o tempo vai passar e que tu te vais levantar. Quem sabe não queiras pensar em encontrar paz em mais ninguém; ou (re-)encontrar suporte em quem está sempre contigo; ou talvez voltes a fazer de ti o teu próprio suporte. Preferindo que a paz e a felicidade dependam de ti.

 Voltas a colocar-te em primeiro lugar e a dar prioridade ao teu ser. Mostras ao mundo que és muito mais feliz contigo. Que não queres que a tua felicidade dependa de mais ninguém. E amas-te como pareceste ter esquecido.

 Um dia talvez deixes que alguém tente mostrar-te que às vezes dá certo e que a paz pode vir em forma de beijo na testa, conchinha ou pequenos almoços na cama. Só não vais esquecer que a paz, a felicidade, e o amor do mundo estão dentro de ti e não na mão de um alguém qualquer.

 Vais ser sempre tu para ti; contra o mundo quando for preciso.

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