Rotina bem vivida

Eu gosto delas assim, com a língua afiada, sem problemas em dizer seja o que for. E lembro que quando era a conversa com elas que me mantinha ocupada, tu largavas um "olá p'ra ti", e era também por isso que elas gostavam tanto de ti para mim. Mas nem vim falar delas, amor. Vim lembrar-te porque éramos tão lindos juntos, como funcionávamos tão bem.

Nos dias de sol era na varanda que me encontravas, nos dias chuvosos era no sofá em frente à lareira.
No inverno bebíamos um tinto, fosse na varanda ou à lareira. No verão era branco ou rosé - o meu favorito -, mas também havia tardes em que bebíamos uma cervejinha, acompanhada de uns salgados que sempre fizeram a minha delícia. Quem não nos conhece imagina-nos uns alcoólatras - que não somos -, mas que nos importa a opinião dos outros? Sempre fomos nossos e os outros sempre foram os outros. Mas lembras das nossas tardes? Quando a vida corria devagar devagarinho e a nossa companhia era mel.

Lembro de contares que sabias sempre quando eu já tinha chegado quando entravas em casa, e nada tinha que ver com o meu carro estacionado ou o meu porta-chaves em cima do móvel, dizias tu que era o meu perfume que se fazia sentir mal se abria a porta. Eu achava parvo, e achava-te parvo, mas era assim que eu gostava de ti. Eu sabia que tinha lógica, e tu sabias que eu sabia, mas discutíamos essas parvoíces.
A tua casa era o meu sítio preferido. Era onde eu me sentia segura. Contigo é que eu estava bem, mas mesmo quando não estavas era ali que eu preferia estar. Aquele lugar parecia compreender-me tão bem ou melhor do que tu. Por isso fiquei tão triste quando os teus pais resolveram desfazer-se do imóvel.
Sabes que não eram os bens materiais que me conquistavam, mas tu e os teus pequenos gestos. Derretia-me quando abria a porta e encontrava um saco em cima do móvel da entrada, com uns dizeres que ninguém tem de saber, e dentro tinha algo que melhorava ainda mais o meu dia.

Lembro de saberes que quando o meu dia tinha corrido menos bem era certo e sabido que era no teu T1 que eu ia estar. Na cama a ver um filme, na banheira a descansar ou na cozinha a fazer um bolo. E tu sempre amoroso trazias-me uma flor, ou bombons, ou o que te passasse pela cabeça que me ia fazer bem. E ficavas comigo, naquela companhia que sabias que precisava, que sempre soubeste sem que precisasse explicar-te.
Lembro que quando os teus pais te chamavam para jantar e pediam para apareceres mal saísses do trabalho, passavas sempre em casa primeiro, e não porque precisasses de algo de lá, mas porque querias ter a certeza de que não me deixavas sozinha e desamparada. Nesses dias, quando eu não estava, ligavas-me e perguntavas se não estava a pensar ir lá, e falavas do jantar com os teus pais. "Sabes que não te quero deixar sozinha, Pi. A sério mesmo?! Quando sair de lá ligo-te, está bem?". E a nossa relação era assim com muito de cuidado um pelo outro.
Comentários
Enviar um comentário
Eu vou ficar tão feliz se você comentar! *-* A sua opinião é muito importante pra mim ♥