Rotina bem vivida

 Lembras daqueles dias em que quando chegava da faculdade ia diretinha para tua casa?! Quando chegavas do trabalho eu estava na varanda naquele descanso que sabias que precisava. Normalmente acompanhada de um livro ou do telemóvel à conversa com elas. Quando eu ouvia a chave na porta sorria e começava a acabar a conversa, elas já sabiam das horas e quando ficavas preso no trabalho até brincavam a perguntar se eu não tinha de desligar. Os livros não troçavam de mim, mas sei que ficavam enciumados quando chegavas.
 Eu gosto delas assim, com a língua afiada, sem problemas em dizer seja o que for. E lembro que quando era a conversa com elas que me mantinha ocupada, tu largavas um "olá p'ra ti", e era também por isso que elas gostavam tanto de ti para mim. Mas nem vim falar delas, amor. Vim lembrar-te porque éramos tão lindos juntos, como funcionávamos tão bem.


 Nos dias de sol era na varanda que me encontravas, nos dias chuvosos era no sofá em frente à lareira.
No inverno bebíamos um tinto, fosse na varanda ou à lareira. No verão era branco ou rosé - o meu favorito -, mas também havia tardes em que bebíamos uma cervejinha, acompanhada de uns salgados que sempre fizeram a minha delícia. Quem não nos conhece imagina-nos uns alcoólatras - que não somos -, mas que nos importa a opinião dos outros? Sempre fomos nossos e os outros sempre foram os outros. Mas lembras das nossas tardes? Quando a vida corria devagar devagarinho e a nossa companhia era mel.


 Lembro de contares que sabias sempre quando eu já tinha chegado quando entravas em casa, e nada tinha que ver com o meu carro estacionado ou o meu porta-chaves em cima do móvel, dizias tu que era o meu perfume que se fazia sentir mal se abria a porta. Eu achava parvo, e achava-te parvo, mas era assim que eu gostava de ti. Eu sabia que tinha lógica, e tu sabias que eu sabia, mas discutíamos essas parvoíces.

 A tua casa era o meu sítio preferido. Era onde eu me sentia segura. Contigo é que eu estava bem, mas mesmo quando não estavas era ali que eu preferia estar. Aquele lugar parecia compreender-me tão bem ou melhor do que tu. Por isso fiquei tão triste quando os teus pais resolveram desfazer-se do imóvel.


 Sabes que não eram os bens materiais que me conquistavam, mas tu e os teus pequenos gestos. Derretia-me quando abria a porta e encontrava um saco em cima do móvel da entrada, com uns dizeres que ninguém tem de saber, e dentro tinha algo que melhorava ainda mais o meu dia.



 Lembro de saberes que quando o meu dia tinha corrido menos bem era certo e sabido que era no teu T1 que eu ia estar. Na cama a ver um filme, na banheira a descansar ou na cozinha a fazer um bolo. E tu sempre amoroso trazias-me uma flor, ou bombons, ou o que te passasse pela cabeça que me ia fazer bem. E ficavas comigo, naquela companhia que sabias que precisava, que sempre soubeste sem que precisasse explicar-te.


 Lembro que quando os teus pais te chamavam para jantar e pediam para apareceres mal saísses do trabalho, passavas sempre em casa primeiro, e não porque precisasses de algo de lá, mas porque querias ter a certeza de que não me deixavas sozinha e desamparada. Nesses dias, quando eu não estava, ligavas-me e perguntavas se não estava a pensar ir lá, e falavas do jantar com os teus pais. "Sabes que não te quero deixar sozinha, Pi. A sério mesmo?! Quando sair de lá ligo-te, está bem?". E a nossa relação era assim com muito de cuidado um pelo outro.

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